Formação, Atividade e Subjetividade: aspectos indissociáveis da docência

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Resumos dos capítulos:

PARTE I – Significações sobre os saberes e as práticas docentes

Ressignificação das representações sociais de atividade docente relacionada à concepção de uma pedagogia nova
Monica Rabello de Castro; Alda Judith Alves-Mazzotti; Helenice Maia
Este estudo apresenta os principais resultados de três pesquisas sobre trabalho docente vinculadas a uma investigação mais ampla desenvolvida por três universidades (Universidade Estácio de Sá, UNESA-RJ; Pontifícia Universidade Católica-SP e Universidade Federal de Alagoas-UFAL) por meio de um programa de cooperação acadêmica (PROCAD – Edital n. 01/2007) que contou com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

O estudo do trabalho docente: sistemas de representações sociais, papel profissional e práticas
Pedro Humberto Faria Campos

Em direção a uma ciência dos saberes das práticas educativas
Tarso B. Mazzotti

Autoconfrontação e representações sociais de saberes e de atividade docente: um olhar sobre a indisciplina na Educação de Surdos
Ivan Finamore Araujo; Monica Rabello de Castro
Este estudo aprofunda-se em um dos aspectos de uma pesquisa sobre o trabalho docente (ARAUJO, 2013), a questão da indisciplina em sala de aula, que teve como objetivo investigar as representações sociais dos saberes da prática e da atividade docente, através da investigação do docente no seu cotidiano escolar. Destacamos a aplicação de uma metodologia inovadora de análise do trabalho docente, na qual demonstramos a questão da indisciplina dentro de sala de aula na educação de Surdos. Esta pesquisa buscou avançar o estudo desenvolvido por Carreiro (2011) e Perez (2011), discutindo os resultados obtidos pela pesquisa do Projeto “Trabalho docente e subjetividade: aspectos indissociáveis da formação do professor” do Programa Nacional de Cooperação Acadêmica – PROCAD (CAPES), que tem como uma de suas propostas promover intercâmbios entre diferentes instituições. O projeto contou com a participação do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Universidade Estácio de Sá, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e da Universidade Federal de Alagoas e é orientado pelo eixo temático Trabalho Docente, tendo o propósito de contribuir para a melhoria da educação brasileira.

Atividade docente: os sentidos e significados que uma professora atribui à aquisição da escrita
Elaine de Holanda Rosário; Maria Auxiliadora da Silva Cavalcante
Este artigo visa apresentar uma pesquisa de mestrado realizada nos anos de 2010 a 2012, cujo objetivo foi analisar a atividade docente, através dos sentidos e significados que uma professora do Ensino Fundamental atribui à aquisição da escrita, pesquisando como se configura a atividade real e o real da atividade. A coleta de dados deste estudo ocorreu numa escola da Rede Pública Municipal de Maceió, numa turma do 2º ano do Ensino Fundamental. Os pressupostos teóricos foram: a Psicologia Sócio-Histórica, a Clínica da Atividade e a aquisição da escrita. Os procedimentos e as técnicas metodológicas utilizadas foram as seguintes: entrevista de narrativa da história de vida, entrevistas semiestruturadas e centralizadas, sessões de observações e filmagens e de autoconfrontações simples. Quanto aos resultados, foi constatado que a professora considera a atividade docente como uma profissão da qual o indivíduo tem que gostar e amar como uma vocação, e é uma profissão sofrida e fácil para a mulher realizar. A professora afirmou, ainda, que nem sempre o prescrito para sua atividade de trabalho era de fato realizado. Ela acreditava que a função do/a professor/a é preparar o/a aluno/a para viver em sociedade, buscando por seus direitos, e que é imprescindível que, em pleno século XXI, os/as alunos/as saibam escrever e, consequentemente, a aprendizagem da leitura ande em conjunto com a escrita.

PARTE II – Formação docente e perspectivas investigativas

Reflexividade e formação docente: considerações a partir de um projeto formativo-investigativo
Ana Maria Falcão de Aragão
A partir de um projeto formativo realizado entre uma universidade e uma escola públicas, o processo de reflexividade coletiva de um grupo de professores foi sendo registrado, possibilitando que fossem apontados os indícios deste processo, bem como suas implicações. Defendo que há reflexividade quando o profissional desenvolve suas teorias e práticas se debruçando sobre o conjunto de sua ação e refletindo sobre o seu ensino e sobre suas condições sociais nas quais suas experiências estão inseridas. Fomos construindo a passagem de um “eu solitário a um eu solidário“ sugerindo estratégias de formação na/com a escola que foram sendo reconhecidas como instituinte de um sentido acordado, integrador e definidor de uma diversidade de olhares sobre o que lá acontecia. Este artigo apresenta um olhar contextualizado que compreende algumas relações e mantém questionamentos sobre outros tantos aspectos da prática de pesquisa dos professores. Nesse aspecto, é um olhar que convida outros olhares, outras possibilidades de compreender a reflexividade coletiva.

Autoconfrontação e atividade docente: o que dizem as pesquisas brasileiras
Soraya Dayanna Guimarães Santos; Alessandra Bonorandi Dounis; Neiza de Lourdes Frederico Fumes; Elaine de Holanda Rosário; Arlete Rodrigues dos Santos
Este artigo visa construir um panorama do estado da arte da pesquisa que faz uso da autoconfrontação para a análise da atividade docente, a partir das dissertações e teses, disponíveis na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações da CAPES. A autoconfrontação é um dispositivo metodológico utilizado pela Clínica da Atividade, proposta por Yves Clot, um dos principais autores da ergonomia francesa, e que vem sendo discutida recentemente no Brasil por alguns grupos profissionais, no intuito de desvelar aspectos subjetivos do trabalho, através da relação dialética entre trabalhadores e pesquisadores. Esse dispositivo metodológico traz a possibilidade de alcançar a zona de subjetividade do trabalhador, por lhe dar a oportunidade de refletir e resignificar a sua atividade em coanálise com o pesquisador. Neste contexto, analisamos seis teses e 12 dissertações oriundas de Programas de Pós–Graduação brasileiras, que utilizaram a autoconfrontação para analisar, fomentar o desenvolvimento profissional e apoiar ações de formação continuada de professores da Educação Infantil ao Superior. Todos os trabalhos trouxeram relato do uso da autoconfrontação simples com procedimentos diversificados e associada a outros instrumentos, como entrevistas e diários de campo. Dez deles, no entanto, utilizaram também a autoconfrontação cruzada. Os pesquisadores utilizaram como base epistemológica autores do Interacionismo Sociodiscursivo, além daqueles envolvidos com a Clínica da Atividade, circunscrita na Ergonomia Francesa e da Psicologia Sócio – Histórica, representadas, respectivamente, por Bronkcart, Yves Clot e Vigotski. A partir das análises dos trabalhos, constatamos que a autoconfrontação tem potencial para ser utilizada como ferramenta de formação docente, no entanto, deve ser acompanhada de reflexões sobre a atividade no seu contexto social e político para promover modificações consistentes no âmbito da educação.

Autoconfrontação: narrativa videogravada, reflexividade e formação do professor como ser para si
Maria Vilani Cosme de Carvalho; Wanda Maria Junqueira de Aguiar
Este artigo tem sua gênese no entrecruzamento de reflexões realizadas por dois grupos de pesquisa inseridos no Projeto de Cooperação Acadêmica – PROCAD/CAPES acerca das práticas de pesquisa crítica. Considerando as reflexões surgidas nos encontros desses dois grupos, foi entendido como promissor o desenvolvimento do projeto de pesquisa “Vivendo e pesquisando a docência na perspectiva Sócio-Histórica: em busca de fundamentos teóricos e metodológicos”, por uma das professoras envolvida, mediante a realização de estágio de pós-doutoramento29. Uma das questões investigadas nesse estágio, e que nos pareceu sintetizar com maior propriedade as inquietações surgidas nos trabalhos de pesquisa realizados pelos grupos, ou seja, as práticas de pesquisas críticas, foi: Que procedimentos metodológicos podem ser empregados no desenvolvimento de pesquisas sobre a atividade docente que provoquem reflexões no professor sobre a possibilidade de ele vir a desenvolver práticas que se caracterizem pela autonomia profissional na escola? A autoconfrontação, realizada nas pesquisas que investigaram a atividade docente, pode ser entendida não apenas como procedimento metodológico de produção de dados, mas, também, como processo formativo do professor com possibilidades de torná-lo “ser para-si”? Essa questão se faz necessária na medida em que, nas pesquisas analisadas no âmbito do projeto PROCAD, é apontado que a autoconfrontação provoca movimentos de transformação que tendem à autonomia profissional (SOARES, 2011; RETZ, 2012; BRANDO, 2012). Em face dessas constatações, passamos a investigar se a reflexão propiciada pelas sessões de autoconfrontação, empregadas na realização de pesquisas sobre a atividade docente, é capaz de transformar o professor em “ser para-si”: profissional crítico-reflexivo, que pensa sua prática em sua historicidade. São os resultados da pesquisa que realizamos para dar conta desse objetivo, bem as mútuas reflexões suscitadas e efetivadas nos dois grupos que serão discutidos neste artigo.

A clínica da atividade e a formação docente: considerando o contexto escolar
Laura Cristina Vieira Pizzi; Wanessa Lopes de Melo
O propósito desse trabalho é apresentar algumas contribuições da Clínica da Atividade desenvolvida por Yves Clot e sua abordagem de pesquisa, a autoconfrontação, para a formação de professores/as, levando em consideração a atividade docente desenvolvida nas salas de aula. A coleta de dados é realizada através de observações, entrevistas e filmagens, das aulas ministradas. A autoconfrontação simples e cruzada também é filmada e analisada pelo/a professor/a e posteriormente pelo/a pesquisador/a, os dados assim coletados durante as autoconfrontações constituem parte fundamental no processo de análise da atividade docente. Esse procedimento permite que os docentes façam uma análise do seu trabalho, avaliando seus resultados de forma a revelar os elementos que estão presentes no “real da atividade”. Para Clot, a “atividade real” não é o único elemento que está em jogo quando o trabalhador realiza uma atividade. O “real da atividade” seria um conceito mais amplo, que envolve todas as ações planejadas e que não puderam ser executadas. Esse recurso pode ser uma ferramenta potente no processo de formação docente, uma vez que traz imagens das situações e experiências reais de trabalho vividas por professores/as e seus estudantes no contexto escolar, especialmente das escolas públicas.

Cooperação profissional: uma alternativa para a formação continuada de professores
Itale Cericato; Claudia Leme Ferreira Davis
Este artigo analisa como uma professora iniciante sente e significa sua profissão, de modo a identificar se esses fatores interferem na docência. Os dados, coletados por meio de entrevistas, foram analisados à luz da Psicologia Sócio-histórica, com foco nas categorias Sentido e Significado. As conclusões mostram ser a docência definida por critérios vigentes no senso comum e pela reprodução de discursos perpetuados ao longo de gerações de professores. Os alunos são considerados desmotivados para a aprendizagem e a formação continuada menosprezada, em relação aos conhecimentos produzidos pela prática. Está presente a crença de não ser possível ensinar a todos os alunos, bem como a ausência de um trabalho colaborativo, confirmando que a atividade docente é realizada, prioritariamente, de maneira isolada. Por fim, propõe-se a cooperação profissional como alternativa à formação continuada de professores, sobretudo no caso dos iniciantes, em que a mediação tutorial de um par mais experiente pode auxiliar em muito o profissional iniciante nos rumos de sua profissão.

Contribuições da pesquisa crítica de colaboração para as pesquisa fundamentadas na perspectiva sócio-histórica: um desafio
Elvira Godinho Aranha; Virgínia Campos Machado
Este trabalho tem como objetivo discutir por que e como as contribuições da Pesquisa Crítica de Colaboração (PCCol), tal como proposta por Magalhães (2009), têm sido incorporadas aos estudos realizados no grupo de pesquisa “Atividade Docente e Subjetividade”. Para alcançar tal intento, faremos uma breve retomada das experiências de pesquisa vivenciadas pelo grupo de pesquisa supracitado, as quais estimularam a incorporação dos pressupostos da PCCol, para, na sequência, explicitarmos esses pressupostos, articulando-os ao referencial teórico e metodológico que fundamenta nossos estudos, quais sejam: o Materialismo Histórico e Dialético e a Psicologia Sócio-histórica. Pretendemos, com isso, enfatizar a estreita e necessária afinidade entre os objetivos de pesquisa, a teoria que a sustenta e o método na produção do conhecimento científico. Ao final, relatamos brevemente uma experiência inicial de pesquisa em que a articulação teórica explorada neste artigo serve como norteadora para a entrada em campo, as conduções e procedimentos utilizados inicialmente.